Mariléia Maciel
Pra cantar “ladrão” de marabaixo não é preciso se cantora, os versos podem ser tirados por quem tiver o refrão na ponta língua, imaginação e talento que permita o improviso. Tudo isso Danniela Ramos tem de sobra. Bisneta de Julião Ramos, Danniela nasceu e foi criada entre caixas de marabaixo, santos e tudo o que mantém a tradição amapaense viva. Além do sangue dos negros escravos que trouxeram para o Laguinho a festa que mescla a religião e o lúdico, Danniela é uma das poucas jovens que se entrega completamente para que os festejos da Santíssima Trindade e Divino Espírito Santo seja a mais bonita festa da cidade.
Ela é a atual presidente da Associação Cultural Raimundo Ladislau – “O Marabaixo do Laguinho” que é uma das entidades responsáveis pelo resgate da maior e mais autêntica manifestação cultural de nosso Estado e pelo encantamento de jovens e crianças por esta cultura que correu o risco, há anos, de morrer. O grupo conseguiu trazer jovens que têm orgulho em vestir a saia ou a calça branca e dançar, tocar caixa e cantar na roda junto com os mais velhos. As crianças fazem questão de imitá-la e seguem o mesmo caminho.
Cantar os ladrões no microfone não é pra qualquer um e Danniela neste momento deixa de ser presidente, se destaca e é imitada por boa parte dos participantes. A união do sangue, talento, empolgação e orgulho que Danniela mostra quando começa a se apresentar deixa qualquer espectador com vontade de entrar na roda e dançar sem parar. Não há quem não se encante com a voz grave, forte e segura. É essa voz que a torna uma das mais jovens cantoras de ladrão.
Já fez aulas de canto algumas vezes, mas as experiências desde muito pequena ao lado da avó, a Tia Biló e dos tios Martinho Ramos, Joaquim Ramos, Mestre Pavão, Munjoca e muitos outros, valeram para ela mais que anos de estudo. Já pôde mostrar a força de sua voz com cantores como Roneri, Joãozinho Gomes e Val Milhomem numa apresentação marcante. Quando se apresenta com o grupo de Marabaixo Raimundo Ladislau em outros estados é uma das principais atrações, seu canto junto com o toque das caixas leva qualquer pessoa para dentro da roda, ou se não, ao menos olham emocionados a dança cadenciada com o ritmo criado pelos escravos.
Além do talento para a música, Danniela conhece a própria história e de seus antepassados. E esse conhecimento faz questão de passar adiante, através de oficinas que realiza o ano inteiro no Centro de Cultura Negra, escolas da rede pública e privada e faculdades. Numa rodada de marabaixo canta mais de 50 ladrões diferentes, desde os que escutava quando criança até aos que foram criados mais recentemente por ela mesma. Além destas qualidades, ela também faz o caldo e dá o teor da gengibirra, nem forte pra cair, nem fraca pra passar despercebida. Jovem, bonita, inteligente e talentosa, Danniela reúne todas as características essenciais que marcam as que têm no caminho a missão de perpetuar o Marabaixo.
FONTE: CORREA NETO – www.correaneto.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário